terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Ei, você, grandão: deixe as crianças serem crianças!

Adultos são assim ó:

Querem que as crianças falem e andem cedo, e quando elas começam a andar e falar pedem pra elas ficarem quietas (porque são tagarelas, porque não param, "não é possível devem ser hiperativas), daí pra piorar vão ao médico, reclamam e dão remedinho pra acalmar. Ou então, não toleram de forma alguma as diferenças: esse é pequeno, esse é muito grande, esse é muito magro, esse é gordinho demais, esse é vergonhoso, esse vai com todo mundo, esse é enjoado, esse é calmo, etc, etc, etc. Não olham para as diferenças de uma forma positiva, singular, mas sempre achando algum defeito. Comparam e comparam.....depois é criança que faz bullyng,  que faz chacota das diferenças - psiu: só pra constar e te avisar, quem ensina as crianças somos nós adultos.
Transmitimos à elas o que somos e não o que mandamos (faça assim, não faça assado). Nossos atos, nossa filosofia, nosso modo de ver a vida e vivê-la é passado. Depois 'meubem' não adianta reclamar do filho para vizinha, para o médico, para a família. Preste atenção em tu antes de tudo o que for querer ensinar. Transmitir é como nos mostramos à uma criança. Ela acontece, no dia a dia, sem você perceber e pensar - é aí que está o problema! Sua ignorância que educa, aquilo que você ainda nem sabe de você mesmo e exige de uma criança (que está em constante construção e transformação) que faça certo e não faça errado.
Você quer que ela coma tudo, mesmo que ela tenha um estômago do tamanho da mãozinha fechada e que ela esteja satisfeita...."que criança feia, não come direito". E você quer que ela coma os alimentos mais saudáveis do mundo, mesmo mostrando à ela que você come doces, refrigerantes, frituras e afins. Você pensa que ela é um robô, só pode ser.
Você acha que o filho da vizinha é mais esperto, maior, mais gordinho. E você fala isso pra ele!
Digo isso porque ontem, passeando com meu Pincis pelo bairro me deparo com um bebê de 11 meses, sua mãe e seus avós. Me perguntaram se meu filho engatinhava, comia, seu peso tamanho,essas coisas....eu já imaginei que daí não viriam boas coisas. E não veio mesmo. Foi triste. A mãe disse para o filho: - "viu seu bobão, preguiçoso, ele tem 9 meses e já faz tudo isso." E me disse: -"sabe o que é isso, ele ainda tem colo, por isso não anda, é preguiça. Comigo só quer mamar no peito". Eu, já horrorizada e preocupadíssima com a criança, tentei reverter, dizendo que cada criança tem seu ritmo, sua necessidade. Ela  trabalha o dia todo, seria óbvio que ele ainda quisesse mais seu colo à preferir andar pelo mundo e seu leite à papinhas. Não precisamos ser gênios para perceber isso, e sim, sensíveis e conectados aos nossos filhos.
E esse papo de "criança precisa de qualidade não de quantidade". Criança precisa de quantidade sim, de estar junto aos pais e/ou pai e mãe, avós, tios, pessoas que as amam e mostram a ela. Quantidade de tempo livre para brincar, descobrir o mundo, pintar e bordar com a imaginação, sem um adulto "recreativo" dizendo o que ela deve ou não fazer. Sem agendas lotadíssimas de atividades o dia todo. Elas precisam ser livres.
Sei que não existe uma transmissão e educação perfeita, afinal somos feitos de contradições, mas também podemos ser feitos de beleza, sensibilidade e sabedoria, reconhecendo que erramos e tentando entender o porquê. Para cuidarmos de alguém, precisamos pensar em nós, nas nossas vivências e quais marcas e cicatrizes temos delas.
As crianças só querem ser crianças. Brincar, sentir, cheirar e olhar os nuances do mundo, da vida. Você deixa?

Guimarães Rosa já havia advertido quanto aos adultos:

"Não gosto de falar em infância. É um tempo de coisas boas, mas sempre com pessoas grandes incomodando a gente, intervindo, estragando os prazeres. Recordando o tempo de criança, vejo por lá um excesso de adultos, todos eles, mesmo os mais queridos, ao modo de soldados e policiais do invasor, em pátria ocupada. Fui rancoroso e revolucionário permanente então. Já era míope e, nem mesmo eu, ninguém sabia. Gostava de estudar sozinho e de brincar de geografia. Mas, tempo bom de verdade, só começou com a conquista de algum isolamento, com a segurança de poder fechar-me num quarto e trancar a porta. Deitar no chão e imaginar estórias, poemas, romances, botando todo mundo conhecido como personagem, misturando as melhores coisas, vistas e ouvidas".

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